Fale Conosco

As Línguas da Bretanha: Um Património Cultural Vivo

d4f570474ad26b8f570474ad28cf57v-960x640

A Bretanha, região histórica localizada no noroeste da França, possui um patrimônio linguístico único que reflete sua rica herança cultural. Esta península manteve ao longo dos séculos uma identidade distintiva, fortemente marcada por suas tradições e, principalmente, por suas línguas autóctones.

Para contextualizar adequadamente, é importante notar que a França, apesar de sua forte tradição de centralização linguística, abriga um mosaico surpreendentemente diverso de idiomas regionais. Estima-se que existam entre 20 e 25 línguas histórica e culturalmente distintas no território francês, incluindo o occitano, o basco, o catalão, o corso, o flamengo, o alsaciano, e diversas línguas de territórios ultramarinos.

A situação destas línguas é geralmente frágil. Desde a Revolução Francesa, e particularmente a partir do século XIX, o Estado francês implementou políticas linguísticas que priorizaram o francês padrão como único idioma legítimo da República.

Neste contexto nacional de tensão entre uniformidade e diversidade linguística, a Bretanha se destaca como uma das regiões que mais fortemente preservou suas línguas próprias, afastada dos grandes centros urbanos franceses.

O Bretão: Uma Língua Celta Resistente

O bretão (brezhoneg) é a mais emblemática das línguas da região. Pertencente à família das línguas celtas, compartilha raízes com o galês, o córnico e o gaélico. Trazido para a península armoricana entre os séculos V e VII por populações que migraram da Grã-Bretanha, o bretão desenvolveu-se como uma língua distinta do francês e resistiu durante séculos à centralização linguística promovida pelo Estado francês.

Historicamente, o bretão foi falado em toda a parte ocidental da Bretanha, área conhecida como Basse-Bretagne (Baixa Bretanha). No início do século XX, ainda era a língua cotidiana de mais de um milhão de pessoas. Contudo, políticas sistemáticas de francização nas escolas e a modernização socioeconômica levaram a um declínio acentuado.

Atualmente, estima-se que existam cerca de 200.000 falantes de bretão, principalmente pessoas idosas. No entanto, um movimento de revitalização tem ganhado força desde os anos 1970, com o surgimento de escolas de imersão linguística (Diwan), cursos para adultos e maior presença na mídia local.

O Gallo: A Língua Romance da Bretanha

Menos conhecida internacionalmente, mas igualmente importante para o patrimônio cultural bretão, o gallo é uma língua românica falada tradicionalmente na parte oriental da região, conhecida como Haute-Bretagne (Alta Bretanha).

O gallo pertence ao grupo das línguas d'oïl, como o normando e o picardo, e é linguisticamente próximo do francês. Apesar dessa proximidade, possui características fonéticas, lexicais e sintáticas próprias que o diferenciam significativamente da língua nacional.

Durante muito tempo considerado um simples patois (dialeto rural de baixo prestígio), o gallo tem sido objeto de um reconhecimento crescente nas últimas décadas. Associações culturais como Bertègn Galèzz trabalham para sua preservação e ensino, e desde 2004 é oficialmente reconhecido, junto com o bretão, como "língua da Bretanha" pelo Conselho Regional.

Desafios e Perspectivas

Apesar dos esforços de revitalização, tanto o bretão quanto o gallo enfrentam desafios significativos para sua sobrevivência. A transmissão intergeracional natural praticamente cessou em meados do século XX, e hoje a maioria dos novos falantes aprende estas línguas em contextos educacionais formais.

O reconhecimento oficial também permanece limitado, já que a França, diferentemente de países como Espanha ou Reino Unido, não concede status oficial às suas línguas regionais. A Constituição francesa estabelece o francês como única língua oficial, e a Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias nunca foi ratificada pelo país.

No entanto, há sinais positivos. O interesse cultural pelas línguas bretãs tem crescido, particularmente entre os jovens. Festivais como o Festival Interceltique de Lorient e a vibrante cena musical bretã contribuem para dar visibilidade a este patrimônio linguístico. Além disso, as novas tecnologias oferecem possibilidades inéditas para a aprendizagem e uso destas línguas.

 

Sobre o autor: Meu nome é Gunther Masi Haas. Sou desenvolvedor web, e atualmente trabalho também como designer multimídia na Biarritz Turismo. Apaixonado por cultura e história, escrevo sobre diversos aspectos da história da França e suas ricas tradições. Para saber mais sobre meu trabalho, siga o blog e acompanhe minhas publicações.

Voltar